De repente tudo se iluminou. Fez-se luz. Decidi. Não quero mais esta situação para mim. Não me refiro à hipótese de não ter filhos. Refiro-me à actual situação com o meu companheiro. Não estou bem, não me sinto feliz. Decidi pôr um ponto final. Terminei com a relação. Sinto-me bem, aliviada, viva. Estava a definhar. Não lhe quero mal, antes pelo contrário. Desejo-lhe o melhor. Apenas eu não tenho que me sacrificar para que ele se mantenha confortável e inalterado. Estava a pedir-me, em nome do seu conforto, sacrifícios imensos. Ninguém pode pedir isso a ninguém.
Tenho 39 anos. Sinto - hoje - a vida de forma diferente. Venha o que vier a bem. Chega de estar sempre a lutar. A desesperar por tudo. Estou tranquila e aceitante. Se não vierem filhos, assim seja. Somos também as nossas tristezas, aquilo que não tivemos.
Termino aqui hoje, este blogue. Cumpriu uma função importantíssima nos últimos meses. Foi o meu escape, o meu gritar para o mundo. Ainda que ninguém tenha ouvido, eu pude chorar, falar, lamentar.
Abre-se um novo ciclo na minha vida. Venha o que vier, estou tranquila. Gosto de mim e daquilo que sou. Tenho confiança e esperança, não em conseguir fazer isto ou aquilo, ter aquilo ou aqueloutro, mas sim na minha capacidade de estar viva de uma forma integra e plena para os outros.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Conseguir
Talvez a única coisa correcta que eu possa fazer agora é não me fazer sofrer. Viver um dia de cada vez e uma situação de cada vez. Não adianta angustiar-me, ficar ansiosa, martirizada, cheia de pena de mim própria. Um passo de cada vez na vida. Tenho idade suficiente para saber que a ansiedade e a pressão que sentimos pouco ajudam. Vou ser capaz, independentemente do destino que as coisas levarem. Vou ser capaz de encontrar o meu lugar. Sinto que não tem havido justiça, é bem verdade que sinto, mas que posso fazer? Os outros são como são. Eu sou como sou. Não posso negar a minha natureza e o meu ímpeto. Tenho muita coisa nas próximas semanas, à minha espera. Vou viver cada uma delas com tempo, sem pressas, nem angústia. O novo ciclo irá sem dúvida nascer.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Estou à espera
Ontem tivemos uma consulta de preparação para o próximo ciclo, que vai transferir os dois embriões que estão congelados. Sinto-me quase que anestesiada. Já pouco mexe no peito. Parece que estávamos a falar de nada, afinal. Sinto-me numa fase em que apenas avanço, sem capacidade de colocar emoção, expectativa, desejo ou seja lá o que for. Estou muito cansada. Os últimos anos têm sido difíceis, com muita desilusão. Acho que muito tenho conseguido gerir, afinal. Mas continuo muito desiludida ainda com coisas essenciais (ou será que não o são?).
Não acredito muito neste ciclo. Os embriões têm alguma fragmentação celular. Sinto que, porventura, é um passo necessário para continuar para um próximo ciclo, uma vez que estes embriões teriam sempre que ser transferidos. Mas estou pouco crente. No anterior alimentei muito mais expectativa.
Sinto que estou à espera que o universo me mande um sinal. Algo em que me apoie. Algo que me faça decidir o que vai ser a minha vida daqui em diante. Preciso de mudança. De acreditar. A minha vida profissional melhorou substancialmente. Fiz fracturas, investi muito. Agora tenho tido a recompensa. Não me posso queixar da minha situação actual. No campo afectivo é que dói mais. A fragilidade da relação com o meu companheiro e o problema da infertilidade têm sido muito difíceis de aguentar, conciliar, acreditar que posso seguir em frente. Estou à espera.
Não acredito muito neste ciclo. Os embriões têm alguma fragmentação celular. Sinto que, porventura, é um passo necessário para continuar para um próximo ciclo, uma vez que estes embriões teriam sempre que ser transferidos. Mas estou pouco crente. No anterior alimentei muito mais expectativa.
Sinto que estou à espera que o universo me mande um sinal. Algo em que me apoie. Algo que me faça decidir o que vai ser a minha vida daqui em diante. Preciso de mudança. De acreditar. A minha vida profissional melhorou substancialmente. Fiz fracturas, investi muito. Agora tenho tido a recompensa. Não me posso queixar da minha situação actual. No campo afectivo é que dói mais. A fragilidade da relação com o meu companheiro e o problema da infertilidade têm sido muito difíceis de aguentar, conciliar, acreditar que posso seguir em frente. Estou à espera.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
A Deus
A minha avó faleceu na terça-feira. A sua morte tocou-me fundo, num sítio que nem eu sabia que existia. Tinha 90 anos perfeitos. Sem mácula. De repente, o seu corpo decidiu adoecer. Esperou apenas uma semana e meia para se despedir dos seus e lhes deixar o aviso, mínimo, de que ia partir. Da mesma maneira que durante toda a sua vida, também na morte correu à nossa frente, sem que a conseguissemos acompanhar. Era o expoente da autonomia e independência. A noticia da sua doença soou como um soco. Era imortal e imbatível. Nada no universo faria supor que tinha que ir. A sua morte, sentia-a como algo imposto à força, arrancado apenas da compreensão, devastando os sentidos e esmagando qualquer fé. Fiquei com um buraco escuro no peito. De dor, perplexidade, tristeza. E uma saudade imensa. Fez-me reviver todos os minutos passados a seu lado, tendo-me deixado a certeza das melhores memórias. E o consolo de uma relação de 40 anos feita do melhor que pode haver. A sua vida e a sua personalidade são, para mim, exemplos. Obrigada avó, por tudo.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Retalhos
Os últimos tempos têm sido estranhos. Aconteceram muitas coisas que me tocaram profundamente.
A primeira talvez tenha sido a súbita doença da minha avó. É a última avó que tenho viva. A possibilidade do seu desaparecimento mexeu profundamente comigo. Por muitas razões. Por tudo aquilo que ela é como pessoa, por encerrar um capítulo, uma ligação à terra, a rituais que nos faziam sentir inteiros. A notícia da sua doença fez-me reviver toda a minha infância, perspectivar toda a minha vida. É uma avó especial que sempre me fez sentir especial. Pensar que pode não conhecer os meus filhos magoa-me. Parece que falho naquilo que é o ciclo da vida.
No dia a seguir soube de uma antiga amiga, também ela com um problema de infertilidade, que perdeu os dois bebés que transportava. Um ainda nasceu com vida, mas partiu pouco tempo depois. Não consigo sequer imaginar o que é passar por uma experiência destas. Ter o ventre cosido de uma cesariana e estar a despedir-se de dois filhos que pouco estiveram consigo, sabendo que conseguir outra gravidez pode ser uma difícil tarefa. Senti profundamente por ela.
Dois dias depois, almocei com um tio avô. Nunca teve filhos, situação que na sua altura, mais inexplicável era pela ciência. Nunca, ela e a mulher, tocaram no assunto com a família. Eram outros tempos... De repente, diz-me que à noite costuma olhar para trás a pensar a sua vida. Uma das coisas que o inquieta é nunca ter tido filhos. Parei, surpresa e emocionada com a confidência. Disse-me que se pergunta que sentido é que a sua vida teve. Estranho o ser humano... Há coisas universais que, mesmo que todo o resto nos tenha sido de feição (como é o caso deste meu tio avô) nos marcam existencialmente. Não conseguir ter filhos é uma delas. Respondi-lhe que a vida humana é demasiado complexa para encontrar receitas certas para a felicidade e que tudo tem um sentido afinal.
Hoje, ao almoço, vi um pouco de televisão. Estava a dar um debate em que um dos temas abordados era a baixa da natalidade. Ouvi coisas gritantes de uma das palestrantes relativamente a mulheres sem filhos. Grosseiramente, assumia que uma mulher sem filhos é porque não os quis, e não porque não os pode ter. Sempre conheci mais mulheres (e homens) que não puderam, do que mulheres (e homens) que conscientemente não os quiseram.
Enfim, estranha coincidência esta em que tenho sido ultimamente bombardeada com questões sobre o ter ou o não ter. Sobre o nascer e o morrer.
Sei uma coisa. Em mim, a vivência da infertilidade e a possibilidade de vir a morrer sem filhos acrescentou-me imensa humildade e compreensão face ao sofrimento dos outros. Nada é em vão.
A primeira talvez tenha sido a súbita doença da minha avó. É a última avó que tenho viva. A possibilidade do seu desaparecimento mexeu profundamente comigo. Por muitas razões. Por tudo aquilo que ela é como pessoa, por encerrar um capítulo, uma ligação à terra, a rituais que nos faziam sentir inteiros. A notícia da sua doença fez-me reviver toda a minha infância, perspectivar toda a minha vida. É uma avó especial que sempre me fez sentir especial. Pensar que pode não conhecer os meus filhos magoa-me. Parece que falho naquilo que é o ciclo da vida.
No dia a seguir soube de uma antiga amiga, também ela com um problema de infertilidade, que perdeu os dois bebés que transportava. Um ainda nasceu com vida, mas partiu pouco tempo depois. Não consigo sequer imaginar o que é passar por uma experiência destas. Ter o ventre cosido de uma cesariana e estar a despedir-se de dois filhos que pouco estiveram consigo, sabendo que conseguir outra gravidez pode ser uma difícil tarefa. Senti profundamente por ela.
Dois dias depois, almocei com um tio avô. Nunca teve filhos, situação que na sua altura, mais inexplicável era pela ciência. Nunca, ela e a mulher, tocaram no assunto com a família. Eram outros tempos... De repente, diz-me que à noite costuma olhar para trás a pensar a sua vida. Uma das coisas que o inquieta é nunca ter tido filhos. Parei, surpresa e emocionada com a confidência. Disse-me que se pergunta que sentido é que a sua vida teve. Estranho o ser humano... Há coisas universais que, mesmo que todo o resto nos tenha sido de feição (como é o caso deste meu tio avô) nos marcam existencialmente. Não conseguir ter filhos é uma delas. Respondi-lhe que a vida humana é demasiado complexa para encontrar receitas certas para a felicidade e que tudo tem um sentido afinal.
Hoje, ao almoço, vi um pouco de televisão. Estava a dar um debate em que um dos temas abordados era a baixa da natalidade. Ouvi coisas gritantes de uma das palestrantes relativamente a mulheres sem filhos. Grosseiramente, assumia que uma mulher sem filhos é porque não os quis, e não porque não os pode ter. Sempre conheci mais mulheres (e homens) que não puderam, do que mulheres (e homens) que conscientemente não os quiseram.
Enfim, estranha coincidência esta em que tenho sido ultimamente bombardeada com questões sobre o ter ou o não ter. Sobre o nascer e o morrer.
Sei uma coisa. Em mim, a vivência da infertilidade e a possibilidade de vir a morrer sem filhos acrescentou-me imensa humildade e compreensão face ao sofrimento dos outros. Nada é em vão.
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Infertilidade e os outros,
Infertilidade e sentir
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Neptuno a sair da frente
Sinto-me melhor. Talvez esteja a compreender - finalmente - a essência disto tudo, da vida, do nosso percurso cá. Estou mais serena, tranquila, aceitante. A aceitar que aquilo que tenho é aquilo que efectivamente posso ter. A vida é tão diversa na sua ocorrência. Talvez a essência seja mesmo desejar, mas sem sofrimento.
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Crescer com a infertilidade,
Infertilidade e sentir
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Algo simples
Regressei de férias. Soube-me bem parar, embora por dentro não tenha parado um único minuto. Às vezes fazia um esforço para tentar parar, acalmar a mente. Mas em vão. Acho que toda a minha vida passou à minha frente. Acho que analisei tudo. Conclusões? Nenhuma em especial. Vontade de fugir, vontade de ficar, ressentimento, esperança, ódio, amor, compreensão, ciúme, enfim, de tudo um pouco. Sinto que como está, e refiro-me à minha situação com o meu companheiro, as coisas não podem prolongar-se muito mais tempo. É demasiado pesada a inactividade dele, eu ter sempre que carregar tudo, decidir tudo, viver tudo pelos dois. Depois, já não sou uma menina, já conheci muita gente e sei o que a vida tem para oferecer. Não há muito melhor. Se não é por uma coisa, é por outra. Estou a ter muitas dificuldades em resignar-me, aceitar, aceitar que a vida é assim. Reconheço os meus progressos, mas são tão lentos. A questão da infertilidade veio piorar tudo. Veio cair numa relação que de si já tinha muitas fragilidades. Muitas feridas expostas. Muita exigência de compreensão, tempo e paciência. Talvez seja mesmo só feita disso. Sei que recebo. E tenho recebido bastante. Mas existem falhas em áreas centrais, que são dificeis de esquecer, assobiar para o lado. Às vezes penso que um bebé era a pedra toque para equilibrar o prato na balança. Dar algum sentido e justiça à vida. Pôr-me a mim a receber, para variar. Neste momento na minha vida já não peço a relação perfeita, peço apenas algo simples: ter 1 filho.
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