quarta-feira, 27 de maio de 2009
Bom porto
Hoje, já vindo do nada, recebi uma resposta da minha amiga. Desculpou-se com uns dias de ausência do trabalho. Manifestou a sua simpatia pela situação e deu-me uma mensagem de esperança. Percebi que não fui uma prioridade para ela, mas contudo agradeço o seu apoio, quando o entendeu dar. Há que reparar aquilo que pensei inicialmente, não estava correcto. Fico aliviada de a situação ter chegado a bom porto.
terça-feira, 26 de maio de 2009
Vontade de ficar
Ultimamente ando muito "faladora". Talvez porque tenho muita coisa a correr ao mesmo tempo na minha vida. Pessoal, profissional, com os amigos, enfim, em todas as esferas. Não deixa de ser bom sinal, mas consome-me bastante energia mental. Não me concentro, não me foco. Ando bem disposta, com mais certezas sobre mim e os meus sentimentos, mas talvez cansada dos últimos anos que tem sido profícuos em acontecimentos. Hoje em dia a vida é muito exigente. Luta-se por um trabalho e depois por o manter. Luta-se por uma relação e depois por a manter. Agora, luto por um filho. Damos atenção e cuidados à família e aos amigos. Avançamos com todas as feridas antigas e medos. Só quando o tempo passa é que nos apercebemos de tudo o que passamos, das mazelas que se geraram e de como efectivamente estávamos crispados e magoados com as coisas. Hoje, olho para trás e vejo que a primeira FIV que realizámos o foi nas piores condições emocionais. A seguir à descoberta da nossa infertilidade. A seguir a esperarmos que as notícias fossem melhores, quando não o foram. A seguir ao susto, ao medo, ao choque da revelação. Quando almas e corpos se revoltavam face ao que sentiamos como algo injusto e ingrato. Não tinha havido tempo para sarar, para relativizar, para integrar, ainda que um pouco, a situação com tudo o que de novo trouxe. Por vezes relativizamos o impacto daquilo que nos acontece, ou mesmo subestimamos, quando há que dar a real importância ao que vivemos. É importante seguir em frente. Não me arrependo de termos tentado a nossa 1ª FIV na altura que foi. Só isso nos permitiu viver e experimentar, para depois ir integrando uma nova forma de sentir. Apenas agora - porque me sinto melhor - é que vejo que ambos estávamos psicologicamente em baixo e eu, pessoalmente, muito assustada com a revelação e a sentir uma profunda divisão interna: vontade de fugir e vontade de ficar. Hoje tenho vontade de ficar.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Sol à vista
E já está! Já estou a realizar o meu 2º ciclo de FIV. Tenho a primeira ecografia marcada e mais alguns passos dados nesse sentido. Sinto-me contente e com muita esperança. É bom caminhar para aquilo que queremos. O conhecimento acumulado da primeira experiência vai também ajudar muito, sem dúvida. Já conto com os dias em que vou precisar de descansar, bem com todos os outros detalhes que me escaparam da primeira vez. E vai estar sol, é verão, sabe melhor fazer um bebé assim. Hoje estou contente.
Novos episódios
A minha amiga de adolescência continua... em silêncio. Na excepção porém de me ter enviado um daqueles e-mails que circulam na internet com uma reportagem sobre...imagine-se...pais! Um artigo que tece considerações sobre as práticas educativas dos pais de hoje, importância da educação dos filhos, de amar os filhos, etc. Coincidência?
Estou espantada, diria mesmo perplexa, com tamanha desadequação. Quanta falta de generosidade, de abertura, de empatia pelo outro. Ao mesmo tempo horroriza-me adivinhar os sentimentos que por alí andam. Sentimento de superioridade? De incontida alegria por ver os outros "fracassar"? De sentir a sua vida melhor que a dos outros? E chega a revelar um certo sadismo, por querer picar exactamente onde sabe que mais dói ao outro. Julgo ser este um capítulo que eu devo esquecer rapidamente. Deixá-la entregue à sua imensa pena e misericórdia, e a perder esta bonita jornada. Felizmente que me posso orgulhar de ter mais amigos que me tem expressado todo o seu apoio.
Este blog sabe mesmo bem para desabafar... Que bom é poder chegar aqui e dizer o que me vai na alma, independentemente de a quem chega. Refresca-me a alma e organiza-me os pensamentos.
Estou espantada, diria mesmo perplexa, com tamanha desadequação. Quanta falta de generosidade, de abertura, de empatia pelo outro. Ao mesmo tempo horroriza-me adivinhar os sentimentos que por alí andam. Sentimento de superioridade? De incontida alegria por ver os outros "fracassar"? De sentir a sua vida melhor que a dos outros? E chega a revelar um certo sadismo, por querer picar exactamente onde sabe que mais dói ao outro. Julgo ser este um capítulo que eu devo esquecer rapidamente. Deixá-la entregue à sua imensa pena e misericórdia, e a perder esta bonita jornada. Felizmente que me posso orgulhar de ter mais amigos que me tem expressado todo o seu apoio.
Este blog sabe mesmo bem para desabafar... Que bom é poder chegar aqui e dizer o que me vai na alma, independentemente de a quem chega. Refresca-me a alma e organiza-me os pensamentos.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
A "logística" da gravidez
Ontem visitei a minha médica ginecologista para lhe pedir alguns apoios (prescrições para análises e coisas semelhantes) para o meu próximo ciclo de tratamento. Foi muito calorosa e ofereceu toda a sua ajuda. Saí do seu consultório reconfortada e animada. Sabe bem, sabe mesmo muito bem, quando o caminho nos é facilitado.
Uma FIV, para além de mexer profundamente com os afectos e com o nosso corpo, exige um esforço logístico considerável. Visitas ao médico, ecografias, análises ao sangue, idas à farmácia, tomas de medicação a horas certas, apenas para referir uma parte. E, como dizia o poeta (adulterado por mim), a vida não pára para que se tenha um filho. Continua-se a trabalhar, a ver gente, a ter horários para cumprir, fazer refeições, arrumar a casa, etc. A determinada altura, temos mesmo que nos organizar para um período de descanso, o que implica uma coordenação grande com o local de trabalho e com o companheiro. E nem sempre se consegue ter humor suficiente para gerir todas as tarefas "preparatórias".
Vem aí uma fase muito complexa, sem dúvida, mas carregada de esperança. Estou certa que a experiência da primeira vez me vai ajudar para facilitar a segunda. Tenho uma noção mais precisa daquilo que é necessário e de como me posso vir a sentir em termos físicos. E sinto menos ansiedade... estranhamente? Estou mais tranquila, com vontade de investir, mas consciente que - de todo - não controlo tudo.
Uma FIV, para além de mexer profundamente com os afectos e com o nosso corpo, exige um esforço logístico considerável. Visitas ao médico, ecografias, análises ao sangue, idas à farmácia, tomas de medicação a horas certas, apenas para referir uma parte. E, como dizia o poeta (adulterado por mim), a vida não pára para que se tenha um filho. Continua-se a trabalhar, a ver gente, a ter horários para cumprir, fazer refeições, arrumar a casa, etc. A determinada altura, temos mesmo que nos organizar para um período de descanso, o que implica uma coordenação grande com o local de trabalho e com o companheiro. E nem sempre se consegue ter humor suficiente para gerir todas as tarefas "preparatórias".
Vem aí uma fase muito complexa, sem dúvida, mas carregada de esperança. Estou certa que a experiência da primeira vez me vai ajudar para facilitar a segunda. Tenho uma noção mais precisa daquilo que é necessário e de como me posso vir a sentir em termos físicos. E sinto menos ansiedade... estranhamente? Estou mais tranquila, com vontade de investir, mas consciente que - de todo - não controlo tudo.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Passo a passo
Continua esta a ser uma estranha experiência, mas ao mesmo tempo que fortalece. Continuo sem qualquer notícia da minha amiga. À medida que o tempo passa, sinto o problema mais longe, tenho que o admitir. E, ao mesmo tempo, vai-se instalando uma certa tranquilidade, uma segurança sobre aquilo que sou, o que penso, o que quero. Realmente, chega-se a uma idade em que nos apetece muito separar o trigo do joio. Em que a verdade nos dá tranquilidade, seja ela qual for. Sabe-me muito bem não estar já muito preocupada com esta amiga. Afinal... no computo das coisas, que importância é que tem? Os outros ganham espaço junto de nós quando para isso se esforçam, quando nisso investem. Quando não, apenas se tratam de pessoas do nosso circulo que navegam, sem especial papel. Ou talvez, daqui a algum tempo, me aperceba que tudo não passou de um mal entendido. Espero que assim seja.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Revelações
Estranha sensação de continuar sem notícias ou reacção da minha amiga. Até hoje não tive qualquer reacção dela após eu ter revelado que tenho um problema de infertilidade. Não recebeu o e-mail? Não me parece a resposta mais provável. Esteve ausente nestes dias? Pouco provável também. Ficou sem palavras? Estranho.
Sinto, sem dúvida, uma certa insegurança quanto à sua reacção. Continuo a achar que é inevitável assumir a minha vida, com tudo aquilo que ela contêm e, sobretudo, não ter medo de ser eu, nos caminhos que a vida me traçou. A reacções negativas ou menos respeitosas estamos sempre sujeitos ao longo da vida, sendo que o contrário também é verdade. É impossível prever a reacção dos outros. Contudo, é inevitável que nas dinâmicas da amizade e da família sintamos apreensão face à ideia que vão fazer de nós. Tenho uma amiga que teve uma filha com uma deficiência. Houve uma amiga dela que reagiu sempre com um ar pungente, de mal disfarçada "pena", premiando-a sempre com um olhar carregado de tristeza, que a fazia sentir uma infeliz, sem outros recursos dignos de admiração. Acabou, inevitavelmente, por se afastar desta amiga, tal era o mau-estar que lhe fazia sentir. Como face a outros assuntos, o tema da infertilidade também decide a forma como os outros nos olham e sentem.
Sinto, sem dúvida, uma certa insegurança quanto à sua reacção. Continuo a achar que é inevitável assumir a minha vida, com tudo aquilo que ela contêm e, sobretudo, não ter medo de ser eu, nos caminhos que a vida me traçou. A reacções negativas ou menos respeitosas estamos sempre sujeitos ao longo da vida, sendo que o contrário também é verdade. É impossível prever a reacção dos outros. Contudo, é inevitável que nas dinâmicas da amizade e da família sintamos apreensão face à ideia que vão fazer de nós. Tenho uma amiga que teve uma filha com uma deficiência. Houve uma amiga dela que reagiu sempre com um ar pungente, de mal disfarçada "pena", premiando-a sempre com um olhar carregado de tristeza, que a fazia sentir uma infeliz, sem outros recursos dignos de admiração. Acabou, inevitavelmente, por se afastar desta amiga, tal era o mau-estar que lhe fazia sentir. Como face a outros assuntos, o tema da infertilidade também decide a forma como os outros nos olham e sentem.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Verdade sem medo
Ontem revelei a uma amiga de longa data, da adolescência, o meu (nosso) problema de infertilidade. Fi-lo em conversa por e-mail, uma vez que ela possui um horário de trabalho dificil de compatibilizar com o meu. Fi-lo em resposta a uma pergunta directa dela, a "inevitável" quando é que eu e o meu companheiro temos filhos. Pedi-lhe para não revelar a ninguém, uma vez que ainda me estava a habituar à ideia. No meu íntimo, ao decidir revelar, para além da amizade que existe, senti que nada tenho a esconder. A infertilidade é uma doença, não é nada que se possa ou deva ter vergonha. Não escolhe pessoas. Ao contar, senti que tinha o direito à liberdade de dizer a verdade sem medo. Afinal, porque é que os casais infertéis sem devem esconder? Depois fiquei a pensar no que tinha feito. Senti-me insegura. E se a minha vida e a minha privacidade não fossem respeitadas? E se dali viessem palavras arrastadas de compaixão, carregadas daquele indisfarçável sentimento de superioridade "coitada", "tens tanto azar...". E se a notícia fosse revelada a amigos comuns, mesmo eu pedindo para não a ser? Quantas vezes não existe aquela vontade incontrolável para revelar o "picante" da vida alheia, especialmente quando se trata de coisas negativas? Enfim... dúvidas e mais dúvidas. A amizade sabe ser também um lugar estranho. Julgo não haver outra saída a não ser lidar com a situação e enfrentar exactamente aquilo que se apresente.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
O mistério da vida
Aproxima-se o momento em que irei tentar uma nova FIV. Por um lado, sinto alguma tranquilidade pela experiência dada pela primeia FIV. Nestes tratamentos, nada como passar por elas para compreender como é que o corpo reage e que tipo de exigências faz. Inclusive que tipo de apoios são necessários para o período em causa. Existe um aspecto, do qual não consegui cuidar completamente na primeira vez, que é o completo descanso. É importante que a "futura mamã" não seja importunada por questões profissionais, ou outras, e que conte com todo o tempo para descansar. Desta vez vai ser diferente.
Depois, e à medida que o tempo passa, tem que se começar a gerir os sentimentos: há que acreditar num desenlace positivo, mas prepararmo-nos para mais um falhanço. Não é fácil a gestão destes opostos. Às vezes penso que não me devo preocupar e simplesmente deixar-me ir. Seja o que for. Percebo que não há nada que eu possa fazer para que o resultado seja num sentido ou noutro. Li sobre casais que conseguem uma gravidez quando já pouco acreditavam. Outros, que conseguem quando ainda acreditavam profundamente. Enfim, tudo isto permanece um mistério. De alguma forma, sinto que aquilo que estiver escrito, vai acontecer. Num sentido ou noutro.
Depois, e à medida que o tempo passa, tem que se começar a gerir os sentimentos: há que acreditar num desenlace positivo, mas prepararmo-nos para mais um falhanço. Não é fácil a gestão destes opostos. Às vezes penso que não me devo preocupar e simplesmente deixar-me ir. Seja o que for. Percebo que não há nada que eu possa fazer para que o resultado seja num sentido ou noutro. Li sobre casais que conseguem uma gravidez quando já pouco acreditavam. Outros, que conseguem quando ainda acreditavam profundamente. Enfim, tudo isto permanece um mistério. De alguma forma, sinto que aquilo que estiver escrito, vai acontecer. Num sentido ou noutro.
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