Negativo. Li-o à transparência no boletim das análises, até nem precisava virar a folha. Ficámos sem reacção, quase. Profundamente tristes e desiludidos. Pouco falámos até chegar a casa. Não sei bem descrever o que senti. Quase como se aquela cena não estivesse a acontecer, e tudo se tratasse de um filme. Acho que as minhas emoções já estão muito protegidas e o investimento, a esperança depositada, é menor, é cautelosa. Em casa, sentámo-nos na sala e alí ficámos, a olhar em frente, de mãos dadas, a soltar a fala. Chorei em silêncio, as lágrimas caiam-me devagar. Aliviada, ao mesmo tempo, por saber qual o meu real. Triste, pela ausência do milagre. Mas, devo confessar, que na minha profunda tristeza e desilusão, existia uma enorme serenidade. A ideia de não puder ter filhos faz crescer muito. Obriga-nos a pensar a vida exactamente como ela pode ser; brutal, sem lógica ou justiça. Deliciosa também. Ontem, quando olhava para o meu companheiro, amei-o profundamente. Gosto muito deste homem e de tudo o que trouxe para a minha vida. Neste momento, não a consigo imaginar sem ele. Estamos nisto, os dois, a 100%. O investimento é enorme, de parte a parte. Houve uma altura em que a minha cabeça vagueava, em planos de "salvamento" para mim mesma. Hoje já não quero ser salva de coisa nenhuma. A Bela Adormecida não existe. Existe aquilo que existe. Eu e ele. O nosso amor. O meu talento. O talento dele. A família. Os amigos. A esperança. A capacidade de a perder e voltar a viver.
Vamos voltar a tentar. Temos 2 embriões "congelados" à espera. Já falámos com a nossa médica e a consulta de avaliação ficou para depois das férias. Sem sobressaltos. Fico espantada com a serenidade que sinto. Hoje, sinto-me mais tranquila face à probabilidade de eventualmente ficar sem filhos. A felicidade é de facto um lugar estranho, sem receita certa. E estranhamente, a infertilidade, pelo menos no meu caso, obrigou-me a saber mesmo, mas muito mesmo, o que sinto pelo meu companheiro. Isso dá uma força e uma tranquilidade imensas.
Ontem, adormeci, exausta, ao colo do meu companheiro. É, de facto, uma benção ter com quem partilhar.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
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