Como se lida com a tristeza e a frustração dos outros? Dos pais, irmãos, amigos, que devagar começam a adivinhar que alguma coisa se passa? Como dizer-lhes, sabendo que vão sofrer? Como resguardar a privacidade do casal num momento destes?
No primeiro ciclo de FIV que fizemos, não me lembro na minha vida de ter mentido a tanta gente ao mesmo tempo. As faltas ao trabalho, o cansaço com que nos apresentamos, o incómodo do corpo, tudo é explicado com recurso à imaginação. Não se quer logo revelar a causa das coisas. Julgo que por acreditar que talvez não seja preciso esse passo tão definitivo. Acalento-me a pensar que conseguirei uma gravidez antes de ter que revelar ao mundo a verdade. E se a tiver que revelar, que seja em glória e não em fracasso.
Revelar perturba-me. Imagino a preocupação e demonstração de afecto, mas acrescenta todo um conjunto de expectativas para lidar com. Falar do que aconteceu, resultados, prognósticos, dias de procedimentos, tudo passa a ser público. O querer saber é natural nos outros. As ofertas para apoiar também. As sugestões, as palavras de consolo que, muitas vezes, não acrescentam sentido. Nestas alturas falta a paciência.
quinta-feira, 5 de março de 2009
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