A ideia de não ter filhos traz-me perplexidade. Em parte porque não corresponde a nada daquilo com que fomos educados desde pequenos e a toda a idealização pessoal do que seja a vida e o amor. É uma situação excepcional na vida das pessoas, nunca se esperando que nos toque a nós. Quando em adultos nos dizem “talvez… não” o confronto é imenso. Acima de tudo porque é imposto, retirando-nos a hipótese de optar, numa área que sempre sentimos que seria vivida livremente, em pleno, e que, por isso, seria extraordinariamente compensatória.
A ideia de não ter filhos carrega um estranho sentimento de solidão. Como se, de repente, ficássemos mais sós. Como se uma parte da nossa vida, certa de êxtase, ficasse abruptamente esvaziada e nos fosse dada a tarefa – impossível – de a compensar. Se sim, muito bem, mas e se não? Como o compensar? Como o sarar? Pensa-se em tudo. Num esforço de realismo, o que não implica obviamente desistência. Talvez o não querer ser apanhado completamente desprevenido, tal a força do desejo. As águas misturam-se. Quer-se, e ao mesmo tempo preparamo-nos para a desilusão, num esforço que classifico como francamente violento. Acima de tudo porque se tem medo, muito medo mesmo, do dia em que nos possamos vir a confrontar com o não final, com a última tentativa gorada e nos vermos perante a ingrata tarefa de, sozinhos, recriar o desejo e o sonho para outras paragens, incapazes de igualar.
quarta-feira, 4 de março de 2009
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