segunda-feira, 2 de março de 2009

Saber

Na passada semana soube que o resultado do primeiro ciclo de FIV (Fertilização in Vitro) que realizamos foi negativo.

Recordo-me de ter visto, há muitos anos, um filme norte-americano que contava a seguinte história verídica. Um casal tinha duas filhas e a dada altura estas, tinham cerca de cinco e sete anos, adoecem com uma doença que nenhum médico conseguia diagnosticar. Depois de recorreram a inúmeros especialistas, os pais acabam por encontrar um que a consegue identificar. Ambas as meninas sofriam de uma doença rara (cujo nome já não recordo) que, entre outros efeitos, não lhes permitia suportar a luz solar. A doença era incurável, pelo que as duas meninas teriam que viver para sempre afastadas da luz e irradiação solar. As alterações que isto trouxe às crianças e à família foram esmagadoras. Todos passaram a ter que viver no escuro. A casa e o carro tinham as janelas permanentemente tapadas. Durante o dia as crianças não podiam sair à rua, o que lhes sugou, num ápice, toda a normalidade da sua vida anterior. Quando o faziam, tinham que ter o corpo completamente tapado, o que atraía os olhares e os comentários das pessoas. A família acabou por sofrer a incompreensão da comunidade envolvente, que não compreendia os “estranhos hábitos” a que se sujeitavam. Os pais acabam por se desempregar e mudar de cidade. A doença em causa, de ocorrência verdadeiramente excepcional, tinha origem genética. Ambos os pais se submeteram a testes para averiguar qual dos dois é que transportava o gene. A questão mais se punha, uma vez que a mãe tinha um filho de um primeiro casamento, saudável até então. Os resultados são esmagadores. Ambos os pais tinham aquele gene, de natureza raríssima. O médico diz-lhes, com tristeza, procurando expressar o carácter verdadeiramente excepcional daquela situação que “eles eram as últimas pessoas no mundo que se podiam ter juntado”. Para ambos, a revelação é avassaladora. O pai, desfeito, sai do consultório. A mãe fica, lavada em lágrimas. E pergunta ao médico, no seu imenso sofrimento: “sabe o que é viver na escuridão?”. Não – responde este, olhando-a com profunda compaixão – mas sei que é uma bênção ter com quem partilhar.
Sei que é uma bênção ter com quem partilhar. Foi esta frase que me ficou. Fez-me sentido na altura. Hoje, mais sentido me faz. A desilusão é ainda mais insuportável quando vivida sozinho.

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